Igreja na Holanda realiza culto há 800 horas para impedir deportação de família
Ameaçados por razões políticas, armênios contam com 300 pastores, que se revezam em cerimônia ininterrupta
HAIA - A reza como protesto e esperança. Na igreja holandesa de Betel, localizada em Haia, seus fiéis protestantes rezam por um mês e dois dias, sem interrupção, para evitar a deportação de uma família armênia. A polícia não pode entrar em um templo durante os serviços religiosos e, em razão disso, 300 pastores de todo o país se revezam para impedir a prisão de Sasun e Anousche Tamrazyan e seus três filhos.
Sasun diz ter fugido de sua terra ao ser ameaçado de morte por razões políticas. A família está na Holanda há nove anos. Agora, recebeu a ordem do governo para voltar, porque a Armênia é considerada um país seguro pelo governo holandês. A família, no entanto, não acredita nisso.
Eles tentaram permanecer no país, reivindicando uma anistia para menores refugiados, decretada em situações excepcionais pelas autoridades. Se isso for alcançado, os pais também se beneficiarão e seus problemas terão sido resolvidos. O governo holandês, contudo, parece indisposto a fazer isso.
— O futuro da família Tamrazyan não está na Holanda. Concluiu-se que eles não têm o direito de serem protegidos — disse Mark Harbers, secretário de Estado do Asilo e Migração.
O caso é especialmente difícil para o político, liberal de direita. Em setembro, ele disse o mesmo sobre Lili e Howick, também irmãos armênios de 12 e 13 anos, que há 10 anos moram na Holanda. O político primeiro ordenou a sua expulsão, alegando que a Armênia lhes ofereceria segurança, mas, em meio a grande comoção social, acabou por anistiá-los. Os Tamrazyan gostariam de tratamento semelhante para seus filhos, Hayarpi, de 21 anos, Warduhi, de 19, e Seryan, de 15 . Desde então, no entanto, Harbers mudou de ideia.
— Eu não entendo porque o nosso caso chegou ao Conselho de Estado, no momento em que poderíamos ficar. Chegaram a me dizer que se me encontrarem no trem ou na rua, me deportarão e a vida que levo terminará — disse Hayarpi à TV holandesa
O governo diz que existem cerca de 400 menores na mesma situação e que não pretende decretar uma anistia geral. Se as autoridades holandesas consideram que os solicitantes de asilo estão seguros em sua terra natal, então quer que eles voltem.
As leis em vigor respeitam os templos, mas rejeitam abusos da norma. Theo Hettema, presidente do Conselho Geral Holandês dos Reverendos Protestantes, está ciente disso.
— Nenhuma igreja teria que escolher entre respeitar a dignidade humana ou a autoridade governamental — disse ele.
Afinal de contas, ele decidiu abrir as portas para o Tamrazyan "pela fidelidade à hospitalidade eclesiástica". O tempo que Hettema quer ganhar até o secretário de Estado autorizar a permanência da família é apoiado por outros fatores. Os serviços de imigração resolvem com atrasos os pedidos de asilo, por falta de pessoal e ajustes orçamentários.
Em teoria, uma solicitação de asilo deve ser resolvida em seis meses, mas geralmente leva pelo menos um ano. Embora os maiores atrasos ocorram quando os afetados decidem esgotar todos os recursos legais ao seu alcance para ficar, a lentidão da administração foi reconhecida pelo próprio governo. Uma das razões é o fluxo de refugiados sírios de 2015.
Ao pedirem asilo, os escritórios do governo entraram em colapso.
"Cada caso deve ser avaliado com cuidado", apontam as fontes do serviço de imigração. No entanto, os atrasos são multados e, no início de outubro, as autoridades holandesas tiveram que pagar um milhão de euros aos requerentes de asilo (mil casos) que não receberam uma resposta a tempo.
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