João Bosco Penido BURNIER
Pe. João Bosco Penido Burnier nasceu no dia 11 de junho de 1917, em Juiz de Fora, MG. Na tarde de 11 de outubro de 1976, foi baleado, em Ribeirão Cascalheira, MT, por tomar a defesa de duas mulheres presas. Faleceu no dia 12 de outubro, em Goiânia, GO.
É do relato de dom Pedro Casaldáliga que aprendemos os particulares do martírio de Burnier: “João Bosco estava comigo, vínhamos de um encontro indigenista na aldeia dos tapirapés, e ele quis me acompanhar a Ribeirão Cascalheira, onde íamos celebrar a festa da padroeira. Era 11 de outubro. Diante da cadeia, e delegacia, onde as duas mulheres estavam sendo torturadas, havia a polícia e um caititu bravo que devia despedaçar as duas mulheres. Eu falei: ‘Nós vimos aqui simplesmente porque tem duas mulheres que estão sendo torturadas’. Conversamos com eles uns três minutos, só três. O soldado Ezy Ramalho Feitosa deu um soco no pobre João Bosco, uma coronhada e um tiro da bala dundum. Os últimos momentos da vida de Burnier foram uma agonia de santo”.
Pe. Burnier podia voltar o mais rapidamente possível para a sua aldeia. Os índios estavam esperando por ele. Não! Quando soube das torturas, algo de muito mais forte o fez recorrer e interceder. O que leva um missionário a sacrificar e a doar completamente sua própria vida é somente o amor a Jesus Cristo e a paixão pelo seu Reino. Qualquer injustiça cometida contra as pessoas faz surgir a indignação, o grito profético e o braço estendido. O martírio de um cristão é compreendido somente à luz do sacrifício de Jesus, sua entrega total à vontade do Pai e sua defesa da dignidade humana, até o fim. Os mártires são como sementes que tornam fecunda a vida da Igreja. As comunidades cristãs revitalizam-se, amadurecem e tomam, com mais seriedade, o compromisso da doação.
Pe. João Bosco, missionário jesuíta, quando jovem, queria ir para o Japão. Depois de seus estudos em Roma, serviu como propósito da Vice-Província Goiano-Mineira. De 1959 a 1965, respondeu pelos cargos de mestre de noviços e diretor espiritual dos juniores. Os anos de sua vida madura foram dedicados à Missão de Diamantino, MT. Serviu aos beiços-de-pau e bacairis. Vários anos depois de sua morte, os povos indígenas, entre os quais vivia, continuavam a considerá-lo um santo.
De poucas palavras, Burnier era reservado. Não falava de si e de suas experiências pessoais com facilidade. Extremamente disponível, dava atenção a todos. A vida não era algo a que se agarrar, mas um dom que devia ser ofere-cido. A morte violenta foi o coroamento de uma vida que não lhe pertencia mais. Vida doada não é vida perdida, mas vida enaltecida e realizada. Contam seus amigos que, desde jovem, dava atenção a todos sem fazer distinção de pessoas.
O idoso irmão Nicolau Ritter, preso numa cadeira de rodas, e o menino paraplégico, Ataíde, podem testemunhá-lo. Eu mesmo, recém-chegado ao Brasil, num encontro de lideranças indígenas na cidade de Aquidauana, MS, testemunhei seu silêncio e suas poucas palavras, mas também seu profundo compromisso com a causa indígena. Aprendeu, nas reuniões, o fato de ser “um igual” entre os demais. Nada de protagonismo, mas profundamente exigente consigo mesmo e definido nas decisões. Passou a participar da coordenação regional do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e, com muita ponderação e firmeza, fez da justiça e da verdade os objetivos de seu caminho.
Vivia uma grande pobreza evangélica. Tomava as conduções mais baratas, esperava às margens das estradas, pedia carona, até mesmo descansava ao relento à espera de uma condução que o pudesse carregar. Às vezes engatava uma viagem de ônibus na outra, sem descanso. O Cristo pobre e humilde era seu exemplo de vida.
Para um missionário que cai tombado pelo Reino, outros vão surgindo e continuando o caminho. A vida, ensina-nos Pe. Burnier, tem um sentido quando não é centrada sobre si mesma, mas quando é doada. A VIDA não se abastece de vibrações emocionais e não fica encalhada no individualismo. Como Jesus Cristo, a vida deve ser doada numa total entrega ao Reino de Deus.
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