Fátima: Reconstituição provável do texto do segredo
Publicada em 17/04/2017 às 09:16
Ronaldo Ausone Lupinacci*
Vou iniciar este artigo com uma transcrição. Depois farei a análise sumária do assunto que nela consta. O estudo no qual me embasei foi divulgado em inglês, mas, como a tradução automática do Google revelou deficiências, procurei supri-las através da consulta direta ao documento recomposto em língua portuguesa, sobre o qual também falarei. Este, por sua vez, sendo estampado em diminutos caracteres gráficos, dificultou a visualização, de modo que pode haver algum erro de pequena monta na reprodução abaixo. Feitas as ressalvas necessárias, pareceu-me necessário trazê-lo o quanto antes ao publico leitor em vista da superlativa relevância do seu conteúdo. Segue a reconstituição, tal como consegui enxergá-la na tela do computador:
“Agora vou revelar o terceiro fragmento do segredo; ‘Esta parte é a apostasia na Igreja!
Nossa Senhora nos mostrou uma Igreja, mas esta era uma Igreja do inferno, e um indivíduo que eu descrevo como o ‘santo Padre’, em frente de uma multidão que estava louvando ao demônio, mas havia uma diferença com um verdadeiro santo Padre, o olhar, este tinha os olhos do mal.
Então vimos o mesmo Papa entrando numa Igreja, depois de alguns momentos, não há modo de descrever a fealdade daquele lugar, parecia como uma fortaleza de cimento cinzento com ângulos quebrados e janelas semelhantes a olhos, tinha um bico no telhado do edifício.
Em seguida, levantamos a vista para Nossa Senhora, que nos disse vistes a apostasia na Igreja.
Porque o Dogma da fé não é conservado em Roma, sua autoridade será removida e entregada a Fátima. A cátedra de Roma deve ser destruída e uma nova construída em Fátima.
No reinado de Juan Pablo II, a pedra angular da tumba de Pedro deve ser removida e transferida para Fátima.
Esta carta pode ser aberta por o santo Padre, mas deve ser anunciada após Pio XII e antes de 1960.
Se 69 semanas depois de que esta ordem é anunciada, Roma continua sua abominação, a cidade será destruída.
Nossa Senhora nos disse que isso está escrito, [em] Daniel 9: 24-25 e Mateus 21: 42-44”. Consta na sequência uma impressão digital.
Esclareço, inicialmente, que para elaborar este artigo colhi dados no site da Tradition in Action, associação de católicos leigos dos Estados Unidos, e, especificamente, na matéria intitulada “Trying to Decipher a Scramble Message”, publicada por Átila S. Guimarães¹. Lá se encontra a reconstituição, pela qual me orientei para fazer a transcrição acima.
Aquele título indica o objetivo visado por Átila S. Guimarães: tentar decifrar uma mensagem adulterada. Qual a mensagem? O fragmento da terceira parte da mensagem passada por Nossa Senhora em Fátima (Portugal), no ano de 1917 a três crianças (Lúcia, Jacinta e Francisco).
Guimarães não garantiu que a reconstituição por ele realizada corresponde, exatamente, ao original guardado nos arquivos do Vaticano desde 1957. Muito menos eu posso garantir tal identidade. Entretanto, existem fortes razões para acreditar que – se a reconstituição não reproduz, integralmente, o documento original – apresenta-se ela muito próxima das palavras proferidas pela Virgem Maria. E, para avalizar o trabalho de Guimarães existem tanto os elementos seguros daquilo que se conhece sobre o referido documento, como o eficaz método de decifração que ele, como perito em assuntos religiosos, soube construir.
Para que o leitor possa melhor compreender a magna importância do trabalho realizado por Guimarães é preciso alinhar alguns fatos. São eles, principalmente: 1.º) desde o ano de 1960 os católicos do mundo inteiro aguardavam a divulgação pelo Papa da parte até então ignorada do assim chamado “Segredo de Fátima”; 2.º) contudo, em 8 de fevereiro de 1960, o Vaticano declarou que o documento permaneceria inacessível, isto é, em segredo; 3.º) em 1985 o Cardeal Ratzinger (depois Papa Bento VI) disse que o texto continuaria oculto, supostamente para evitar “utilizações sensacionalistas do seu conteúdo”²; 4.º) no ano 2000 o Vaticano apresentou um outro documento, muito diferente, como se tratasse do único texto da terceira parte do segredo, silenciando sobre fragmento acima reproduzido; 5.º) como esta atitude do Vaticano despertara fundadas suspeitas de materializar desinformação deliberada, estudiosos do assunto se puseram a pesquisar, e chegaram a conclusão de que existia, realmente, a pequena carta escrita por Lúcia dos Santos (a quem Nossa Senhora comunicou a mensagem); 6.º) a partir de inconfidências (hoje em dia, aqui no Brasil diríamos “vazamentos”) provindas de pessoas que ou, haviam lido a carta, ou, dela obtido conhecimento por vias indiretas, se sabia que o assunto do fragmento epistolar consistia na atual crise da Igreja Católica; 7.º) no ano 2010 foi publicado na Internet documento contendo texto muito parecido com aquele que principia este artigo, mas dele transpareciam indícios seguros de adulteração; 8.º) no final de 2016 a renomada perita calígrafa Begoña Slocker Arce emitiu parecer atestando a autenticidade do manuscrito sob o aspecto da autoria, isto é, de ter sido escrito realmente por Lúcia dos Santos, a “irmã Lúcia”, vidente das aparições de Fátima; 9.º) contudo, remanesciam dúvidas sobre as receadas falsificações, vale dizer que – apesar a confirmação da autoria – era perceptível ter sido o documento modificado em parte, com possíveis inserções, supressões e deslocamentos de palavras. Note-se que só havia circulado uma suposta cópia, pois o original permaneceu retido pelo Vaticano. Por aí se explica o esforço de Guimarães para reconstituir o texto verdadeiro do comunicado, de importância inigualável porque se relaciona, direta e proximamente, com os destinos da Igreja e da Humanidade.
De tudo o que foi exposto emergem questões gravíssimas. Primeiramente se conclui que só poderia realizar a falsificação alguém que tivesse acesso aos aposentos papais, na Santa Sé, de modo a apanhar o original, extrair cópias, recortá-las e remontar o texto para, finalmente, dele obter a cópia adulterada e dela fazer a divulgação na Internet. Em segundo lugar, comparando-se o texto falsificado e o texto reconstituído por Átila S. Guimarães se verifica que o falsificador teve em mente tornar o conteúdo dificilmente inteligível, e, ao mesmo tempo, ocultar a apostasia do Papado, e, do que se designa por Igreja institucional, isto é, os eclesiásticos desde cardeais até simples sacerdotes, e, mesmo leigos. Ademais, a falsificação contém deficiências suficientes para desacreditar cientificamente seu conteúdo, e, este era outro objetivo de quem a concebeu. Por outro lado, a reconstituição elaborada por Guimarães se revela bastante plausível, vale dizer provável, porque reflete harmonia com aquilo que se sabe existir no documento verdadeiro, e, também, porque se liga aos acontecimentos intraeclesiais ocorridos desde 1960, em especial o desastroso Concílio Vaticano II, e, tudo o que se lhe seguiu como consequência trágica das respectivas deliberações, instruções e omissões.
É preciso enfatizar que o texto, mesmo reconstituído, possui passagens enigmáticas. Isso, porém, é comum em mensagens celestes e profecias, que só podem ser bem compreendidas depois de consumados os fatos nelas referidos. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, frequentemente, se valia das parábolas da linguagem figurada como se lê nos Evangelhos. Diante desta dificuldade, não vou me aventurar na interpretação de tudo quanto está explícito ou implícito no texto, mas, somente, comentar alguns de seus trechos de mais fácil assimilação.
A primeira evidência que emerge consiste na terrível acusação de traição (apostasia), embora não se possa identificar a pessoa de um Papa determinado. Penso que acusação é genérica, mirando no Papado como instituição, e, em mais de um dos Papas que governaram a Igreja, desde 1960, ou, provavelmente todos eles. Ademais, a condenação veemente quanto ao comportamento apóstata não fica restrita às pessoas que ocuparam a cátedra de São Pedro, mas se estende, como disse acima, a uma vasta parcela do Episcopado e do Clero, cujo concurso seria indispensável para o alastramento da infidelidade. A segunda evidência é a de que a referida apostasia guarda relação direta com o Concílio Vaticano II, cujos trabalhos preparatórios ocorreram naquele ano de 1960. Outra evidência reside no que a mensagem denomina “abominação”. Para os católicos que acompanham os acontecimentos presentes abominações surgem quase que diariamente no noticiário religioso. O mencionado site Tradition in Action, por exemplo, ao lado de outras publicações católicas fiéis à tradição da Igreja, contém abundantes e eloquentes provas a respeito. Se todo esse panorama não era bem claro para muitos até algum tempo atrás, tornou-se de transparência cristalina a partir do pontificado do Papa Francisco, que deixou de lado as ambiguidades táticas de seus antecessores, e se lançou, com todo o ímpeto, no processo de “autodemolição” da Igreja assim qualificado pelo Papa Paulo VI. E, por isso tudo, penso que o desfecho dos acontecimentos previstos em Fátima não tardará muito, com o esclarecimento completo do conjunto da mensagem enviada por Nossa Senhora, e o advento dos fatos ainda não consumados, dentre os quais o aniquilamento de várias nações, a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, e o triunfo final da Santíssima Virgem sobre seus inimigos situados fora e dentro da Igreja.
*O autor é advogado e pecuarista.
¹http://www.traditioninaction.org/HotTopics/g33ht_Decipher.htm .
²No livro-entrevista editado com Vittorio MessorI sob o título “A FÉ EM CRISE?”
²No livro-entrevista editado com Vittorio MessorI sob o título “A FÉ EM CRISE?”
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