TIMING ERRADO
O que está por trás da viagem do papa à Geórgia e ao Azerbaijão
A receptividade da visita do Papa Francisco à Georgia e ao Azerbaijão em momentos políticos delicados não foi a esperada
Um papa exerce um papel muito complexo como chefe supremo da Igreja Católica. É um líder de um poder soberano que influencia os assuntos mundiais; um mestre na diplomacia inter-religiosa; e um pastor e uma fonte de inspiração para as comunidades católicas em quase todos os países do mundo. Lidar com todos esses papéis é uma tarefa difícil, como comprovado na visita do pontífice ao Cáucaso, uma região onde as antigas religiões e as grandes potências se rivalizam.
De acordo com muitas novas histórias, a visita do pontífice à Georgia, que alega ser o primeiro país a receber os ensinamentos do cristianismo, foi uma decepção de seu papado. As notícias descreveram as cadeiras vazias em uma missa ao ar livre em um estádio de futebol em Tbilisi. Os organizadores do evento disseram que a multidão de talvez 5 mil pessoas, que assistiram à missa respirando o cheiro agradável de pinho, era considerável em um país com cerca de 30 mil católicos, menos de 1% do total da população, que vivem, em grande parte, distantes da capital.
Em seguida, o papa foi para o Azerbaijão, um país muçulmano com uma população de maioria xiita, onde um total de 570 católicos vivem, segundo estatísticas do Vaticano. Enquanto ativistas de direitos humanos denunciavam as violações terríveis das liberdades civis no país, entre elas a liberdade de cristãos não conformistas e de alguns muçulmanos, o pontífice enfatizou um aspecto positivo. Papa Francisco elogiou o fato do Azerbaijão, em uma época de intolerância niilista, permitir o funcionamento de algumas igrejas cristãs. E, é claro, a minúscula comunidade católica adorou suas palavras.
Nos dois países o momento da visita foi inadequado. O Papa chegou ao Azerbaijão uma semana depois que a elite governante havia fortalecido seu poder, ao garantir os votos de aprovação à extensão dos mandatos e dos poderes presidenciais. Na Georgia, a visita ocorreu poucos dias antes das eleições nacionais, nas quais os pequenos partidos conservadores poderiam ganhar assentos no parlamento. Paradoxalmente, a presença do Papa estimulou essas forças. Em todos os lugares que visitou o pontífice foi recebido por manifestantes georgianos ultraortodoxos, que o acusaram de “agressão espiritual”.
Nas palavras do site commospace.eu dedicado a comentários sobre o Cáucaso, “a decisão de visitar a Georgia e o Azerbaijão em ocasiões tão próximas de eleições sensíveis” foi um sinal que o Vaticano pensa que a região é “importante o suficiente para justificar os riscos políticos”. O site recomendou que observassem a visita do Papa a Armênia, um país que lhe é tão querido, em junho. O Cáucaso, sem dúvida, precisa de toda a influência estabilizadora que possa obter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário