sexta-feira, 1 de agosto de 2014

o caso vladimir herzog e o rabino henry sorbel

VLADIMIR HERZOG ,UM JUDEU BRASILEIROS PERSEGUIDO PELA DITADURA MILITAR DO BRASIL

Comissão da Verdade

Data de publicação: 16/10/2013
“Nunca eu tive à minha frente a imagem viva de Cristo morto quanto naquela ocasião [no reconhecimento do corpo do operário Santo Dias da Silva]. O soldado do exército romano cortou lado a lado o peito de Cristo na cruz. A bala assassina cortou o peito do operário que nada mais queria que justiça e vida digna para a classe trabalhadora.”

O trecho é parte do depoimento de dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC), na terça-feira, 8, na sala Sergio Vieira de Melo da Câmara Municipal de São Paulo durante audiência da “Comissão da Verdade Vladimir Herzog” com a presença de líderes políticos e religiosos, como padre Julio Lancellotti, vigário episcopal para o Povo da Rua e o rabino Henry Sobel, da Congregação Israelita Paulista.

A audiência teve o objetivo de recordar histórias da ditadura por meio do depoimento de pessoas que viveram na época, e a bancada foi composta pelos vereadores Juliana Cardoso (PT), Mário Covas Neto (PSDB), Ricardo Young (PPS) e Gilberto Natalini (PV).

Em discurso emocionado, dom Angélico recordou que, antes de ser padre, exerceu a função de jornalista em Ribeirão Preto (SP) e, quando veio para São Paulo encontrou uma Igreja viva e comprometida com as causas do povo.

O Bispo ressaltou a figura de Santo Dias, que foi assassinado no dia 30 de outubro de 1979 em frente à fábrica Sylvânia, em Santo Amaro (SP). “O cardeal dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo e eu fomos chamados ao Instituto Médico Legal para reconhecer o corpo.”

O rabino Henry Sobel falou sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog e o Ato Ecumênico na Catedral da Sé em 1975, que foi o primeiro com aquelas dimensões. Ele recordou a presença de dom Paulo Evaristo Arns, que sugeriu o Ato, e do reverendo Jaime Wright, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, que teve familiares mortos na ditadura.

Quando Vladimir Herzog foi assassinado, o Rabino precisou intervir para que o jornalista não fosse enterrado na ala dos suicidas. Ele também relatou um fato que nunca tinha sido contado sobre uma visita que recebeu dias antes do Ato Ecumênico.

“Recebi a visita de três generais fardados. Um deles disse: ‘Rabino, o senhor não deveria ir ao Ato Ecumênico, porque o lugar de rabino é na Sinagoga e não na Catedral’. Minha resposta veio espontanea-
mente: ‘General, vamos fazer um acordo, o senhor não decide qual é o lugar de um rabino e eu não decido onde o senhor vai estacionar seus tanques’. Ele me abraçou e foi embora, mas por via das dúvidas, depois que saíram, liguei para a embaixada americana em Brasília.”

Padre Julio forneceu dados do Serviço Funerário Municipal, em que 845 pessoas foram sepultadas na condição de indigentes em 2012. Em 2013, até a última semana de setembro, o número chegava a 551. Para o Padre, “é uma situação que continua a mesma prática da ditadura, da vala comum. É o mesmo tratamento desumano dado a essas pessoas [em situação de rua], a quem foi negada a cidadania na vida e também na morte”.
Fonte: Jornal O SÃO PAULO
Inserido por: Família Cristã

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