Dom Dimas pede solução para conflitos de terras no MS
Redação A12, 27 de Novembro de 2013 às 09h17. Atualizada em 27 de Novembro de 2013 às 09h33.
O arcebispo de Campo Grande (MS), Dom
Dimas Lara Barbosa, pediu por meio da 'Carta Aberta às Autoridades' uma
solução para os conflitos de terras entre comunidades indígenas e
produtores rurais. As terras que estão sendo reivindicadas são de
ocupação tradicionalmente indígena. Segundo o arcebispo "a insegurança
jurídica que estamos vivendo no Estado tem gerado muitos conflitos". A
Carta foi divulgada na tarde da última segunda-feira (25) durante
entrevista coletiva.
Dom
Dimas cita no documento a declaração do Ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, na última quinta-feira (21), em Brasília,
durante audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária.
A sinalização do ministro "faz
reascender a esperança no entendimento e no adequado encaminhamento da
questão", destacou o arcebispo.
José Eduardo Cardozo afirmou que o
Governo Federal está disposto a negociar recursos para indenizar os
produtores rurais que precisarem ser deslocados de suas propriedades.
"Há uma decisão política de se fazer
isso. Estamos em conjunto com o Planejamento, a Secretaria Geral da
Presidência e AGU [Advocacia-Geral da União] discutindo a melhor maneira
de fazer", disse.
Entre as terras em discussão está a da Fazenda Buritis em Sidrolândia (MS).
Confira abaixo a íntegra da carta:
Campo Grande, 22 de novembro de 2013.
CARTA ABERTA ÀS AUTORIDADES
EM FAVOR DE UMA SOLUÇÃO PARA OS CONFLITOS DE TERRAS ENTRE COMUNIDADES INDÍGENAS E PRODUTORES RURAIS
EM FAVOR DE UMA SOLUÇÃO PARA OS CONFLITOS DE TERRAS ENTRE COMUNIDADES INDÍGENAS E PRODUTORES RURAIS
A Arquidiocese de Campo Grande acompanha
com preocupação a demora das autoridades competentes em apresentar uma
solução concreta para a situação dos povos indígenas mobilizados por
suas terras e dos produtores rurais que têm suas propriedades
reivindicadas como de ocupação tradicional pelos índios.
De fato, a insegurança jurídica que
estamos vivendo no Estado tem gerado muitos conflitos. De um lado muitas
comunidades indígenas não têm condições de resgatar suas formas
próprias de organização; outras vivem em condições precárias, sem o
atendimento das políticas públicas a que têm direito por lei. Por outro
lado, produtores rurais com títulos de propriedade concedidos pelo
próprio Estado também atravessam momentos difíceis, sendo que muitos são
obrigados a paralisar suas atividades produtivas e, em algumas
situações, são até mesmo levados a deixar suas propriedades por causa
das tantas incertezas que afetam boa parte de seus investimentos e
iniciativas.
Vivemos ao longo do primeiro semestre do
corrente ano um período de grande expectativa, uma vez que inúmeras
reuniões coordenadas por representantes do Governo Federal foram
realizadas na tentativa de se encontrar uma solução para os conflitos.
Houve o empenho de autoridades do Estado, do Ministério Público Federal,
do Conselho Nacional de Justiça, com a participação efetiva de
representantes dos produtores rurais e de lideranças indígenas, bem como
dos Prefeitos dos Municípios mais afetados. O resultado das negociações
foi extremamente positivo e a União assumiu o entendimento de que as
terras indígenas já demarcadas ou por demarcar, e que estão tituladas
aos produtores rurais, devem ser objeto de indenização. As autoridades
federais assumiram o compromisso de estabelecer calendário e encaminhar
as propostas, e todos se comprometeram a aguardar pacificamente pelos
resultados.
Transcorrido um período de silêncio por
parte do Governo Federal, vimos mais uma vez a insegurança e o
descrédito tomarem conta tanto de índios como de produtores rurais,
deixando intranquila também toda a sociedade que almeja pela paz social,
respeito pelos direitos e pela justiça e vida digna para todos. A
sinalização do Excelentíssimo Senhor Ministro da Justiça no último dia
21 de novembro no Senado Federal faz reascender a esperança no
entendimento e no adequado encaminhamento da questão.
Assim, entendemos que é preciso redobrar
os esforços neste momento visando à busca de uma solução definitiva e
pacífica para o problema, de modo a garantir os direitos de todos os
envolvidos, sob pena de se tentar corrigir um erro histórico cometendo
outro. Além do mais, fundamentados na Doutrina Social da Igreja, cremos
que a verdadeira paz só prospera enquanto fruto da justiça.
Diante desse quadro, a Arquidiocese de
Campo Grande, após vários encontros com lideranças indígenas e entidades
de produtores, reitera, mais uma vez, seu apelo às autoridades
competentes do Governo Federal e do Governo Estadual pela continuidade
das negociações, não deixando passar a oportunidade histórica que
estamos tendo em que propostas de solução já estão colocadas sobre a
mesa e as partes envolvidas se apresentam com boa vontade para colaborar
no processo.
A hora é de reparar erros e evitar novas
injustiças! Que o Cristo Senhor, o Príncipe da Paz (cf. Is 9,5), que
veio “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10)
nos inspire nos caminhos da vida, da justiça e paz!
Dom Dimas Lara Barbosa
Arcebispo Metropolitano de Campo Grande - MS
Arcebispo Metropolitano de Campo Grande - MS
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