Crise ucraniana pode causar cisma na Igreja Ortodoxa
Patriarcado de Moscou ameaça romper com Constantinopla
atualizado às 20h39
A Igreja Ortodoxa Russa suspendeu nesta sexta-feira (14) as relações diplomáticas com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla e ameaça um cisma por causa da possibilidade de autocefalia - quando o líder de determinada denominação cristã não precisa se reportar a um superior - da Igreja Ortodoxa Ucraniana.
O patriarca de Moscou, Cirilo, presidiu uma sessão de emergência nesta sexta e afirmou que não considerará "legítima" uma eventual "independência" dos ortodoxos ucranianos, que desde 1686 se reportam à Igreja Russa.
Além disso, interrompeu as relações com o Patriarcado Ecumênico - considerado no mundo ortodoxo como uma espécie de "guia supremo", embora privado de autoridade real - e seu primaz, Bartolomeu. Cirilo também disse que o nome do patriarca não será mais citado nas liturgias na Rússia e que o Patriarcado de Moscou não participará das reuniões presididas por Bartolomeu.
"As decisões são como se fossem um sinal amarelo nas nossas relações", explicou o porta-voz de Cirilo, Alexander Volkov, acrescentando que as opções para o futuro são um "rompimento completo" ou a "retomada do diálogo". Moscou também pediu uma reunião do concílio ecumênico dos ortodoxos sobre a autocefalia da Igreja Ucraniana.
A crise
A turbulência no mundo ortodoxo começou após a decisão de Bartolomeu de enviar dois exarcos a Kiev para iniciar os trabalhos para a autocefalia, medida tomada de forma unilateral, sem convocar o concílio.
Em função disso, Moscou ameaça romper com Constantinopla, que tem sede em Istambul, na Turquia, o que tiraria de Bartolomeu o título de "primeiro entre os iguais". Desde sua independência, em 1991, a Ucrânia já ensaiou diversas vezes a criação de uma igreja ortodoxa local, mas a nova tentativa de unir a fé dos ucranianos chega em meio aos conflitos contra grupos separatistas pró-Moscou no leste do país, que se arrastam desde 2014.
O pedido de autocefalia foi enviado a Bartolomeu pelo presidente Petro Poroshenko, com aval do Parlamento e do Patriarcado de Kiev, que não é reconhecido por nenhuma igreja ortodoxa. O Patriarcado Ecumênico alega que a união entre Moscou e Kiev, adotada em 1686, tinha caráter temporário e que a Ucrânia sempre foi considerada um "território canônico".
A comunidade ortodoxa está dividida: a Polônia, por exemplo, apoia Cirilo, mas a Finlândia está ao lado de Bartolomeu, o que pode indicar um novo cisma no mundo cristão, justamente no momento em que o católico papa Francisco tenta reaproximar as fés irmãs.
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