domingo, 19 de agosto de 2018

A boa notícia para o século 21


A boa notícia para o século 21

Hoje em dia ao ouvir a palavra “evangelho”, muitos vão pensar num dos Evangelhos – o de Mateus, Marcos, Lucas ou João. No entanto, vinte séculos atrás a palavra evangelho (de grego “euangelion” = boa notícia) tinha um significado bem diferente: era a notícia de um indulto ou benefício que o imperador romano concedia aos seus súditos e até mesmo o status de cidade romana conferida a uma cidade recém-conquistada.
O impressionante é que os seguidores de Jesus de Nazaré, que foi condenado por Pôncio Pilatos, o governador romano de Palestina, ressignificaram a palavra, “evangelho” logo depois do seu assassinato judicial na cruz. Esta novidade que os discípulos anunciavam, organizou a sociedade humana em comunidades alternativas que têm critérios bem diferentes dos da organização imperial (cf. Atos 2,42ff e paralelos) e colocou em perigo imediato as pretensões hegemônicas imperialistas.
Em pouco tempo este novo agrupamento humano recebeu o nome de “Cristãos”. Com audácia surpreendente os cristãos começaram a afirmar que a “Boa Nova” não vem do imperador, mas de Jesus o Nazareno, aquele que o império procurou eliminar manipulando os processos judiciais com astucia na ausência das provas válidas na lei. Não é de admirar que no mundo de hoje sente-se a necessidade de recuperar o significado original da palavra “evangelho” que é construir um mundo, contrariando a onda neoliberal, baseando-se nos critérios democráticos e anti-imperialistas.

No início do 3º milênio o Brasil vive um ciclo de prosperidade material inusitada que fomenta tensões sociais. Movido pelo Espírito Santo, a CNBB (A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) reconheceu, já no ano 2014, que era  conveniente promover a tão almejada conversão pastoral recorrendo a Palavra de Deus como a ferramenta apropriada. A igreja em Campo Grande-MS inseriu-se neste caminho quando dedicou as terças-feiras para o estudo da Sagrada Escritura.
O documento 104 (CNBB) de 2014 visa a Igreja tornar-se “uma comunidade das comunidades”, começando na sua base, a atual paróquia. Concretamente, isto prevê uma modificação estrutural eclesial de longo prazo que nem clareza tem quanto aos seus novos contornos. Claro que não vão faltar tensões geradas pela incompreensão quanto da sua motivação, suas implicações, ou até mesmo o medo que tais empreendimentos pioneiros implicam.
Este “evento eclesial” insere-se num mundo em que o imperialismo capitalista, proclamando-se como o único critério de organização social (cf. Thomas Picketty, “O capital no século 21”, RJ, Editora Intrínseca, 2014) se impõe forçosamente. Não são poucos que se sentem encurralados nessa época de globalização e domínio inusitado de tecnologias de controle de tudo. Vimos como a descoberta de pré-sal no Brasil (2007) provocou uma decisão imperialista que promoveu a substituição do governo legítimo do Brasil (2016) numa ação bem orquestrada envolvendo os componentes midiáticos, parlamentares, e judiciais com sucesso espetacular. Domínio perverso e controle da tecnologia da mídia social influenciou os resultados de um pleito nos EUA que até desencadeou um discurso sobre “a era de pós-verdade” que vivemos atualmente!

Propomos uma leitura do Evangelho começando com o de Marcos, como um meio de nos orientar na construção da nossa história. Essa leitura procura encaixar-se na tradição eclesial que nasceu na recepção do Concílio Vaticano II (1962-65) aqui na América Latina (Medellín, 1968) e continua aperfeiçoando-se, e por último no encontro de CELAM  (Conselho Episcopal Latino Americano) na cidade de Aparecida do Norte (2007) definiu a identidade dos seguidores de Jesus como “discípulos missionários”. O episcopado brasileiro oportunamente fez um acréscimo da palavra “cidadão” à identidade do cristão nas diretrizes gerais da ação pastoral (2015-2019). Esperamos que a nossa leitura do Evangelho de Marcos seja uma contribuição para esclarecer o ser “discípulo missionário cidadão”.


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