A boa notícia para o século 21
Hoje em dia ao ouvir a palavra
“evangelho”, muitos vão pensar num dos Evangelhos – o de Mateus, Marcos, Lucas
ou João. No entanto, vinte séculos atrás a palavra evangelho (de grego
“euangelion” = boa notícia) tinha um significado bem diferente: era a notícia
de um indulto ou benefício que o imperador romano concedia aos seus súditos e
até mesmo o status de cidade romana conferida a uma cidade recém-conquistada.
O impressionante é que os seguidores de
Jesus de Nazaré, que foi condenado por Pôncio Pilatos, o governador romano de
Palestina, ressignificaram a palavra, “evangelho” logo depois do seu
assassinato judicial na cruz. Esta novidade que os discípulos anunciavam,
organizou a sociedade humana em comunidades alternativas que têm critérios bem
diferentes dos da organização imperial (cf. Atos 2,42ff e paralelos) e colocou
em perigo imediato as pretensões hegemônicas imperialistas.
Em pouco tempo este novo agrupamento
humano recebeu o nome de “Cristãos”. Com audácia surpreendente os cristãos
começaram a afirmar que a “Boa Nova” não vem do imperador, mas de Jesus o
Nazareno, aquele que o império procurou eliminar manipulando os processos
judiciais com astucia na ausência das provas válidas na lei. Não é de admirar
que no mundo de hoje sente-se a necessidade de recuperar o significado original
da palavra “evangelho” que é construir um mundo, contrariando a onda
neoliberal, baseando-se nos critérios democráticos e anti-imperialistas.
No início do 3º milênio o Brasil vive um
ciclo de prosperidade material inusitada que fomenta tensões sociais. Movido
pelo Espírito Santo, a CNBB (A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)
reconheceu, já no ano 2014, que era
conveniente promover a tão almejada conversão pastoral recorrendo a Palavra
de Deus como a ferramenta apropriada. A igreja em Campo Grande-MS inseriu-se
neste caminho quando dedicou as terças-feiras para o estudo da Sagrada
Escritura.
O documento 104 (CNBB) de 2014 visa a
Igreja tornar-se “uma comunidade das comunidades”, começando na sua base, a
atual paróquia. Concretamente, isto prevê uma modificação estrutural eclesial
de longo prazo que nem clareza tem quanto aos seus novos contornos. Claro que
não vão faltar tensões geradas pela incompreensão quanto da sua motivação, suas
implicações, ou até mesmo o medo que tais empreendimentos pioneiros implicam.
Este “evento eclesial” insere-se num mundo
em que o imperialismo capitalista, proclamando-se como o único critério de
organização social (cf. Thomas Picketty, “O capital no século 21”, RJ, Editora
Intrínseca, 2014) se impõe forçosamente. Não são poucos que se sentem
encurralados nessa época de globalização e domínio inusitado de tecnologias de
controle de tudo. Vimos como a descoberta de pré-sal no Brasil (2007) provocou
uma decisão imperialista que promoveu a substituição do governo legítimo do
Brasil (2016) numa ação bem orquestrada envolvendo os componentes midiáticos,
parlamentares, e judiciais com sucesso espetacular. Domínio perverso e controle
da tecnologia da mídia social influenciou os resultados de um pleito nos EUA
que até desencadeou um discurso sobre “a era de pós-verdade” que vivemos
atualmente!
Propomos uma leitura do Evangelho
começando com o de Marcos, como um meio de nos orientar na construção da nossa
história. Essa leitura procura encaixar-se na tradição eclesial que nasceu na
recepção do Concílio Vaticano II (1962-65) aqui na América Latina (Medellín,
1968) e continua aperfeiçoando-se, e por último no encontro de CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano) na
cidade de Aparecida do Norte (2007) definiu a identidade dos seguidores de
Jesus como “discípulos missionários”. O episcopado brasileiro oportunamente fez
um acréscimo da palavra “cidadão” à identidade do cristão nas diretrizes gerais
da ação pastoral (2015-2019). Esperamos que a nossa leitura do Evangelho de
Marcos seja uma contribuição para esclarecer o ser “discípulo missionário
cidadão”.
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